
Por: Jácia De São Pedro – Colunista de Imobiliário em Portugal
- Escassez de oferta e pressão nos preços
A falta de habitações para venda ou arrendamento continua a ser o maior desafio, com uma procura persistentemente acima da oferta. Isso impulsiona os preços para níveis insustentáveis para muitas famílias.
Em 2024, os preços subiram mais de 9%, e no ano seguinte Portugal liderou a UE com um aumento de 16,3%. supercasa.pt
Entre 2015 e 2023, os preços mais que dobraram (incremento acumulado de 105,8%), enquanto só foram licenciadas 28 mil novas unidades em 2024 claramente insuficiente. The Portugal News
- Desfasamento entre salários e preços
Os rendimentos médios em Portugal não acompanham o ritmo dos aumentos imobiliários. Por exemplo, nos últimos anos, os imóveis valorizam em média 55%, mas os salários só cresceram 9%. internationalinvestment.biz
O salário bruto médio em 2024 era cerca de €1 602/mês insuficiente para acompanhar o ritmo dos preços do mercado residencial.
- Sobrevalorização, especulação e investimentos externos
Estudo do Banco de Portugal demonstra que os preços estão sobrevalorizados, ou seja, crescem mais do que os fundamentos económicos justificam.
Os programas de “vistos gold” e os incentivos fiscais para estrangeiros (nômades digitais, aposentados) atraem forte capital externo e aquecem ainda mais o mercado, reduzindo a acessibilidade para residentes locais.
A pressão também vem do turismo crescente e dos “airbnb”, que reforçam a turistificação e afastam habitação de longo prazo.
- Burocracia, impostos e falta de execução
As licenças e processos burocráticos para construir novas casas são lentos e complexos, atrasando a oferta.
A carga fiscal incluindo IMT, AIMI e IVA na construção aumenta muito o custo final. Há críticas ao facto de muitos planos (como “Mais Habitação”) serem apresentados mas pouco executados. Promessas como 59 mil habitações públicas são vistas como promissoras mas pouco concretizadas.
- Desigualdade social e gentrificação
A rápida valorização nas áreas históricas levou ao encerramento de lojas tradicionais, expulsão de moradores, e aumento da turistificação em bairros como Alfama e no Porto.
Fenómenos de exclusão social vêm ganhando força: sem-abrigo, despejos “silenciosos” e habitação precária se tornam mais frequentes em paralelo com projetos de luxo.
- Feedback da sociedade
Algumas percepções extraídas de fóruns online:
“Portugal is losing population … and yet they keep building luxury houses … this is becoming a problem.” Nesta frase resume-se a crítica de que se continuam a construir imóveis de luxo voltados para estrangeiros, mesmo com declínio demográfico.
Reddit “The housing market lacks a clear price discovery mechanism … properties are often mis‑priced.” Aqui destaca-se a falta de transparência e clareza nas avaliações imobiliárias. Reddit
“Agencies inflate prices for commission …commissions are becoming pornographic.” Um utilizador critica agentes imobiliários por práticas que contribuem para inflacionar preços e piorar a crise. Reddit
Conclusão
A crítica ao mercado imobiliário em Portugal é multifacetada: combina uma oferta cronicamente baixa com uma demanda intensa especialmente de fundos estrangeiros e turismo enquanto os salários locais ficam para trás.
A burocracia e os impostos agravam a falta de acessibilidade, e a execução pública muitas vezes fica aquém das promessas políticas.
O resultado é um mercado sobreaquecido que penaliza fortemente os residentes, sobretudo os mais vulneráveis.
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