
A Vida em Kiev Antes da Guerra
Oleksii lembra com emoção de como era sua vida antes da invasão: “Minha vida era alegre e tranquila. Sou de Kiev e trabalhava no setor de energia renovável, gerenciando uma empresa de fabricação de aquecedores e caldeiras modulares.” Para ele, o sucesso profissional e a vida em Kiev representavam estabilidade e orgulho. Oleksii vivia em um apartamento com vista para o aeroporto de Boryspil e o centro de Kiev, num prédio alto onde sua rotina era permeada de tranquilidade.
No entanto, tudo mudou na manhã de 24 de fevereiro de 2022. “Foi inesperado e sem sentido. Ninguém acreditava que isso poderia acontecer,” conta ele. Naquela madrugada, Oleksii foi acordado por explosões a quilômetros de distância que faziam os alarmes dos carros dispararem. Naquele momento, o som das explosões e a notícia da invasão transformaram o seu cotidiano pacífico em uma realidade de guerra. Como muitos outros ucranianos, ele e sua família passaram o dia tentando compreender o que estava acontecendo, mas quando ouviram um estrondo causado por um jato sobrevoando o prédio, souberam que aquilo era guerra. “Naquela noite, tomei a decisão de defender meu país.”
O conflito surgiu do desejo do governo Russo de reestabelecer sua influência sobre a Ucrânia, que buscava estreitar laços com o Ocidente e a União Europeia. Alegando defender a população de etnia russa e resgatar o “legado histórico” da região, o presidente Vladimir Putin lançou uma invasão em larga escala. Desde então, o conflito se intensificou, se tornando o maior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial, e teve um alto custo em termos de vidas e estabilidade.
O Alistamento e o Campo de Batalha
Quando as tropas russas se aproximaram, milhares de ucranianos se alistaram voluntariamente para defender suas terras e famílias. Em Kiev, mais de 40.000 voluntários se apresentaram nos primeiros três dias da invasão. Para Oleksii, a escolha de se juntar às forças armadas foi clara e inevitável. “Estava como metralhador defendendo uma colina perto da vila de Bohorodychne, na região de Donetsk,” lembra. A intensidade dos combates era implacável, com ataques de fósforo, bombas de fragmentação e minas.
A batalha tomou um alto custo. Oleksii foi ferido por fogo de artilharia e tanques, o que lhe causou concussões e cicatrizes físicas e emocionais que ele carrega até hoje. Com um tom sério, ele reflete: “A guerra é uma roleta. Tive amigos gravemente feridos nas trincheiras; outros, apesar de feridos, sobreviveram.”
A Situação na Ucrânia: Resiliência e Reabilitação
A guerra em si teve um impacto devastador em toda a Ucrânia. Desde o início da invasão em 2022, a Ucrânia tem enfrentado desafios humanitários, econômicos e militares profundos. Hoje, aproximadamente 30% do território ucraniano está contaminado com minas terrestres e explosivos não detonados, tornando-se o país mais minado do mundo. Além disso, as baixas ucranianas incluem dezenas de milhares de soldados e civis feridos, com cerca de 300.000 ucranianos adquirindo deficiências permanentes devido aos ferimentos de guerra.
Oleksii agora está em Londres, onde recebe tratamento e apoio para se recuperar. Para ele, o processo de reabilitação está longe de ser apenas físico. “Na minha dispensa, não havia suporte adequado,” ele revela. Centros de reabilitação foram criados desde então, oferecendo suporte psicológico e assistência legal aos veteranos, mas o país enfrenta uma escassez de fisioterapeutas e especialistas médicos para atender ao crescente número de feridos.
O sistema de saúde, em parceria com organizações internacionais como Médicos Sem Fronteiras (MSF), trabalha para responder às necessidades médicas urgentes da população. Um projeto de reabilitação precoce iniciado em 2022 pela MSF oferece cuidados e suporte a soldados e civis com amputações e traumas múltiplos.
A Visão para o Futuro e o Sentimento de Esperança
Para Oleksii, a guerra é mais do que uma luta por território. Ele descreve o conflito como um embate entre “colonizadores e colonizados,” onde a Ucrânia busca sua liberdade e autonomia, enquanto a Rússia tenta mantê-la sob controle. “Enquanto houver pessoas livres na Ucrânia e a Rússia puder continuar, a guerra persistirá,” reflete.
A comunidade internacional também desempenha um papel crucial. Além do apoio militar, países aliados têm oferecido suporte humanitário e financeiro à Ucrânia, enquanto voluntários e organizações fornecem cuidados essenciais e auxiliam na reintegração dos veteranos. Oleksii vê seu futuro e o de seus compatriotas não apenas como sobreviventes, mas como pilares para a reconstrução de um país que, apesar de todas as dificuldades, continua firme.
Para ele, o sonho é que, um dia, a Ucrânia seja capaz de viver em paz, livre de conflitos. Essa esperança é um símbolo da força ucraniana, que resiste a uma guerra que já custou tanto e ainda não tem fim definido.


