
Por Anielly Laena
Já é consenso que o café é uma bebida apreciada pelos brasileiros em qualquer lugar do mundo. A novidade, porém, é que os ingleses também têm incluído a bebida no seu dia a dia. De acordo com a British Coffee Association, diariamente, são consumidas 98 milhões de xícaras de café no Reino Unido. Um setor importante na economia do país, com a geração de mais de 210 mil empregos.
É diante desse cenário promissor que o brasileiro Fabio Ferreira, cofundador da Notes Coffee Roasters, tem se destacado no mercado londrino, ao aliar tradição familiar e inovação, focando em grãos especiais.
Sua história com o café iniciou em 2004, após uma breve viagem à França, Itália e Inglaterra. Foi nesse período que ele descobriu o mundo do café especial. “A vibrante cultura cafeeira de Londres, que lembrava a energia cosmopolita de São Paulo, conquistou meu coração. Ao retornar ao Brasil, mergulhei no estudo do café, visitando fazendas e aperfeiçoando a arte de ser barista”, relembra Fabio.
Como fruto de sua dedicação, em 2007, Fabio venceu o prestigiado campeonato brasileiro Coffee in Good Spirits, consolidando-se como um pioneiro no segmento de cafés especiais no país. E apesar de sua herança familiar na cafeicultura, como neto e filho de produtores de café no interior de São Paulo, foi em Londres que Fabio tornou-se empreendedor no ramo do café. Em 2008, ele, juntamente com o inglês Rob Robinson, criou a Notes Coffee.
O negócio iniciou-se com um carrinho de café em Strutton Ground, onde era servido café premium aos londrinos. Esse modesto empreendimento evoluiu para a abertura da primeira loja do Notes Coffee perto da Trafalgar Square e, em 2013, para uma torrefação em King’s Cross.
O sucesso dos negócios é atribuído ao cuidado que Fabio sempre teve com a qualidade e inovação dos produtos comercializados. Sendo assim, a Notes Coffee Roasters tornou-se a primeira cafeteria no Reino Unido a vender o premiado café Robusta Amazônico.
Taste & Feel Rondônia
Atento às novidades no setor do café, no dia 05 de dezembro de 2024, a Notes Coffee Roasters fez o lançamento oficial das vendas do café Robusta Amazônico, em Londres. O evento contou com a participação do governador do estado de Rondônia, coronel Marcos Rocha, o secretário estadual da agricultura de Rondônia, Luiz Paulo, do presidente da Associação de Produtores de Café de Rondônia (CAFERON), Juan Travain, e do pesquisador da EMBRAPA/RO Enrique Alves – cada um representando uma área específica que tem contribuído para o desenvolvimento da cafeicultura do estado – além de empresários, jornalistas e apreciadores da bebida.
De acordo com Fabio Ferreira, a escolha pela comercialização do café Robusta Amazônico deu-se pelo “pioneirismo com sustentabilidade e, principalmente, na qualidade do produto. Pois o grande diferencial de Rondônia é querer produzir não só sustentável, mas também um café especial. E isso é que faz toda a diferença”.
A qualidade que chama a atenção de Fabio é fruto de um trabalho coletivo entre governo estadual, os produtores de café e a EMBRAPA/RO. Por ser um estado localizado na região norte do país e por ter uma economia baseada na agricultura, Rondônia vive a dualidade entre produzir e preservar. Desafio assumido pelo atual governador do estado, coronel Marcos Rocha: “Como governador do estado, eu procurei usar de todos os meios lícitos para fazer com que os nossos produtores crescessem. Eu tinha duas situações: primeiro, mostrar para a sociedade de fora de Rondônia que não é o produtor que destrói. Na verdade, são criminosos que destroem, e a gente sabe disso. E segundo, conseguir conciliar produção com preservação. E a gente conseguiu. Rondônia triplicou a produção e, além de triplicar a produção, Rondônia reduziu o desmatamento. A gente reduziu em 62% agora no último ano”.
Mas além da preservação e da produção, o secretário de agricultura de Rondônia, Luiz Paulo, enfatiza que a gestão estadual também tem incentivado a comercialização dos produtos rondonienses. O Taste & Feel Rondônia é prova disso: “O governador, coronel Marcos Rocha, tem um olhar para a abertura de mercado porque ele entende que não é só o fato do produtor ser incentivado a produzir com qualidade, sustentabilidade e preservação ao meio ambiente”.
Rondônia é considerado o 3ᵒ maior produtor de café do Brasil e o 1ᵒ da região norte, responsável por 98% de todo o café produzido na Amazônia brasileira. Hoje, o estado possui mais de 50 mil hectares de área plantada, com uma produção de quase 3 milhões de sacas de café anuais. O valor da saca de café de 60 quilos em Rondônia está na média de R$ 1.600 reais, o beneficiado. Já o café especial ultrapassa o valor de R$ 3.500 reais a saca. O estado exporta para 17 países, com destaque para Bélgica, Estados Unidos, China e agora a Inglaterra, através da Notes Coffee Roasters.

Robusta Amazônico: os sensoriais dos cafés de Rondônia
O que faz o café Robusta Amazônico ser tão especial é a combinação de três fatores: primeiro, a genética única que, apesar de ter vindo da África, se recombinou na Amazônia. Segundo, o ambiente amazônico muito propício para a produção desse tipo de café no mundo, por isso que esses cafés foram tão bem na região. E por último, o saber fazer: é totalmente diferente a forma de produzir o café robusta em comparação ao arábica. “Então essa combinação de genética diferenciada, ambiente amazônico e o saber fazer é o que a gente chama de terroir amazônico, onde a gente tem toda essa diversidade de aromas e sabores que só os robustos têm”, afirma o pesquisador da EMBRAPA/RO, Enrique Alves.
Mas, para chegar a essa qualidade que tem conquistado os amantes do café, foi preciso atuar tanto na produção de conhecimento científico – na seleção genética dos grãos – como na propagação desses novos processos de produção, colheita, fermentação, secagem, torrefação, etc. Um trabalho iniciado há uns 10 anos. Mas, a desconfiança inicial de alguns produtores em alterar alguns processos, em investir tempo e dinheiro, logo foi superada ao ver o retorno que essas práticas contribuíam ainda mais para a qualidade de seus produtos.
Outra característica importante do café Robusta Amazônico é a diversidade cultural dos seus produtores, ou seja, toda a produção é feita por pequenos produtores rurais, mulheres e indígenas. Pessoas que realmente dependem da terra para tirar seu sustento, com o compromisso de preservar a floresta. O cultivo é feito em áreas anteriormente destinadas à criação de gado, ou seja, o produtor não derruba uma árvore, pois reconhece o valor da floresta em pé. Além disso, a região onde se produz o café Robusta Amazônico, denominada de Matas de Rondônia, é a primeira denominação de origem geográfica para cafés Canéforas produzidos de forma sustentável no planeta.
Ao trazer o Robusta Amazônico para Londres, Fabio Ferreira mantém-se fiel ao seu propósito inicial, de oferecer qualidade e inovação aos consumidores da bebida. Além disso, ele também torna-se um parceiro no desenvolvimento do café em Rondônia, pois abre espaço para que histórias reais de homens e mulheres envolvidos nesse processo possam ser contadas, como destaca Juan Travain, produtor de café e presidente da CAFERON: “Porque muitas pessoas falam da produção da Amazônia, e quando você faz ações como essa, você pode explicar para o consumidor final, a ponta da cadeia”.
